Eu não sou compositor do jeito que você diz. Eu não sou compositor só porque escrevo músicas. É que a música e a poesia estão dentro de mim. Sabe? Muitas vezes, durante as noites, eu fico andando pela cidade horas e horas, sozinho, pra sentir a cidade. Fico procurando não sei o quê. Olhando as pessoas que vão passando, observando um camelô, prestando atenção num bêbado, num engraxate solitário, uma prostituta. Ontem vi uma mulher velha, negra, completamente embriagada. Ela cambaleava, mancando, bêbada, a perna torta, quebrada, se apoiando num pedaço de madeira. Eu fiquei pensando: essa mulher é o mundo! É o que fizeram do mundo. Ela cambaleava, com a bebedeira, a perna torta e um cabo de vassoura. Conseguia caminhar uns três metros, mas logo caía, estatelava-se no chão. Depois, com muito sacrifício, conseguia se levantar, mas logo caía novamente. Aquela vontade de caminhar, de continuar. Num certo momento ela atravessou a avenida. E, no meio da avenida, entre os automóveis que passavam, ela caiu... caiu e não conseguia mais levantar sozinha. Alguém tinha que ajudar. E lá ficou ela, no chão, caída, no meio dos carros que passavam. Passavam os Dodges, os Opalas, os Corcéis, os Fiats... E ninguém sequer olhava pra ela. Os carros passavam, e a mulher ali: jogada, como um bicho ferido. Sabe que ali na rua eu chorei por aquela mulher? Eu chorei. Nem sei bem se chorei por ela ou por mim, ou se chorei pelo mundo.
Tuesday, November 23, 2010
Eu não sou compositor do jeito que você diz. Eu não sou compositor só porque escrevo músicas. É que a música e a poesia estão dentro de mim. Sabe? Muitas vezes, durante as noites, eu fico andando pela cidade horas e horas, sozinho, pra sentir a cidade. Fico procurando não sei o quê. Olhando as pessoas que vão passando, observando um camelô, prestando atenção num bêbado, num engraxate solitário, uma prostituta. Ontem vi uma mulher velha, negra, completamente embriagada. Ela cambaleava, mancando, bêbada, a perna torta, quebrada, se apoiando num pedaço de madeira. Eu fiquei pensando: essa mulher é o mundo! É o que fizeram do mundo. Ela cambaleava, com a bebedeira, a perna torta e um cabo de vassoura. Conseguia caminhar uns três metros, mas logo caía, estatelava-se no chão. Depois, com muito sacrifício, conseguia se levantar, mas logo caía novamente. Aquela vontade de caminhar, de continuar. Num certo momento ela atravessou a avenida. E, no meio da avenida, entre os automóveis que passavam, ela caiu... caiu e não conseguia mais levantar sozinha. Alguém tinha que ajudar. E lá ficou ela, no chão, caída, no meio dos carros que passavam. Passavam os Dodges, os Opalas, os Corcéis, os Fiats... E ninguém sequer olhava pra ela. Os carros passavam, e a mulher ali: jogada, como um bicho ferido. Sabe que ali na rua eu chorei por aquela mulher? Eu chorei. Nem sei bem se chorei por ela ou por mim, ou se chorei pelo mundo.
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